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Sem mais,
Julia Campanucci

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sera que eu

Posso Errar?
Por Leila Ferreira


Há pouco tempo fui obrigada a lavar meus cabelos com o xampu “errado”. Foi
num hotel, onde cheguei pouco antes de fazer uma palestra e, depois de ver
que tinha deixado meu xampu em casa, descobri que não havia farmácia nem
shopping num raio de 10 quilômetros.

A única opção era usar o dois-em-um
(xampu com efeito condicionador) do kit d o hotel. Opção? Maneira de dizer.
Meus cabelos, superoleosos, grudam só de ouvir a palavra “condicionador”.
Mas fui em frente. Apliquei o produto cautelosamente, enxaguei, fiz a
escova de praxe e... surpresa! Os cabelos ficaram soltos e brilhantes —
tudo aquilo que meus nove vidros de xampu “certo” que deixei em casa
costumam prometer para nem sempre cumprir. Foi aí que me dei conta do
quanto a gente se esforça para fazer a coisa certa, comprar o produto
certo, usar a roupa certa, dizer a coisa certa — e a pergunta que não quer
calar é: certa pra quem? Ou: certa por quê?

O homem certo, por exemplo: existe ficção maior do que essa? Minha amiga
se casou com um exemplar da espécie depois de namorá-lo sete anos. Levou
um mês para descobrir que estava com o marido errado. Ele foi “certo” até
colocar a aliança. O que faz surgir outra pergunta: certo até quando?
Porque o certo de hoje pode se transformar no equívoco monumenta l de
amanhã. Ou o contrário: existem homens que chegam com aquele jeito de
“nada a ver”, vão ficando e, quando você se assusta, está casada — e feliz
— com um deles.

E as roupas? Quantos sábados você já passou num shopping procurando o
vestido certo e os sapatos certos para aquele casamento chiquérrimo e, na
hora de sair para a festa, você se olha no espelho e tem a sensação de que
está tudo errado? As vendedoras juraram que era a escolha perfeita, mas
talvez você se sentisse melhor com uma dose menor de perfeição. Eu mesma
já fui para várias festas me sentindo fantasiada. Estava com a roupa
“certa”, mas o que eu queria mesmo era ter ficado mais parecida comigo
mesma, nem que fosse para “errar”.

Outro dia fui dar uma bronca numa amiga que insiste em fumar, apesar dos
problemas de saúde, e ela me respondeu: “Eu sei que está errado, mas a
gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem
graça. O que eu queria mesmo era trair meu marido, mas isso eu não tenho
coragem. Então eu fumo”. Sem entrar no mérito da questão — da traição ou
do cigarro —, concordo que viver é, eventualmente, poder escorregar ou
sair do tom. O mundo está cheio de regras, que vão desde nosso
guarda-roupa, passando por cosméticos e dietas, até o que vamos dizer na
entrevista de emprego, o vinho que devemos pedir no restaurante, o
desempenho sexual que nos torna parceiros interessantes, o restaurante que
está na moda, o celular que dá status, a idade que devemos aparentar.
Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao
inesperado.

O filósofo Mario Sergio Cortella conta que muitas pessoas se surpreendem
quando constatam que ele não sabe dirigir e tem sempre alguém que
pergunta: “Como assim?! Você não dirige?!” . Com toda a calma, ele
responde: “Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios —
tem um punhado de coisas que eu não faço”. Não temos que fazer tudo que
esperam que a gente faça nem acertar sempre no que fazemos. Como diz
Sofia, agente de viagens que adora questionar regras: “Não sou obrigada a
gostar de comida japonesa, nem a ter manequim 38 e, muito menos, a achar
normal uma vida sem carboidratos”. O certo ou o “certo” pode até ser bom.
Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso.


Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro
Mulheres – Por que será que elas..., da Editora Globo


Um comentário:

Anônimo disse...

“Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios —".. kkkkkkkk

Muito bom esse texto!

Bjs